Flutamida serve para queda de cabelo?

Facebooktwitterpinterest

Flutamida serve para queda de cabelo?

Flutamida é um tema polêmico quando o assunto é tratamento para queda de cabelo. Estamos falando de um medicamento para casos avançados de câncer de próstata, mas que costumava ser receitado por alguns médicos em alguns casos de alopecia androgenética.

Os efeitos da flutamida são bastante poderosos, porém os riscos de efeitos colaterais severos (e a ocorrência de algumas mortes relacionadas ao remédio!) fizeram com que ela fosse abandonada por grande parte dos dermatologistas.

Mas será que devemos descartar completamente os benefícios deste potente medicamento?

Reunimos as informações disponíveis sobre a flutamida, incluindo o histórico do remédio, a bula e os estudos realizados com a substância até hoje, e vamos contar tudo para você.

O que é flutamida?

Flutamida é uma substância descoberta nos anos 70 e aprovada em 1989 pela FDA (Food and Drug Administration, agência que regula a comercialização de medicamentos nos Estados Unidos) para o tratamento do câncer de próstata. No Brasil, o medicamento obteve o registro no Ministério da Saúde em 1991.

O único uso autorizado para a flutamida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão brasileiro com função semelhante à da FDA) é em casos de câncer de próstata. Porém, alguns dos resultados secundários do remédio, como a redução da acne, do hirsutismo (excesso de pêlos no corpo da mulher) e da queda de cabelo nos quadros de alopecia androgenética levaram muitos médicos a receitá-la também nesses casos (situação conhecida como off label, ou seja, “fora da bula” – veja aqui a postura da Anvisa em relação a essa prática).

Como a flutamida funciona?

Os hormônios androgênicos (como a testosterona) exercem várias funções no organismo humano, como a formação das características sexuais masculinas no feto, as mudanças pelas quais os meninos passam durante a puberdade, a regulação do funcionamento da próstata, do ganho de massa muscular, entre várias outras.

Para realizar essas mudanças, os hormônios precisam se conectar aos receptores androgênicos das células. Quando essa conexão acontece, a célula passa a fazer o que o hormônio determina.

A flutamida faz parte da classe de medicamentos bloqueadores do receptor androgênico: ela se conecta a esses receptores no lugar dos hormônios, impedindo que eles realizem as suas funções nas células.

Ilustração demonstrando atuação dos antagonistas do receptor androgênico, como a flutamida, acetato de ciproterona e espironolactona

A flutamida age como antagonista do receptor androgênico: ela ocupa a posição do hormônio e impede que ele atue na célula.

Nos casos de câncer de próstata, esses hormônios podem estimular o crescimento dos tumores. O tratamento com flutamida bloqueia esse efeito, ajudando a controlar o avanço da doença.

Por que a flutamida funciona para queda de cabelo?

Quando o tratamento com flutamida é realizado de forma sistêmica (como no caso dos comprimidos, que agem dentro do corpo), a sua ação não é restrita à próstata: ela afeta várias células em outras partes do corpo também.

Por causa disso, outros problemas que também sejam causados ou agravados pela ação dos hormônios androgênicos, como a acne e o hirsutismo, também podem se beneficiar da ação do remédio.

Por atuar diretamente nos receptores androgênicos das células, a flutamida tem o poder de reduzir os efeitos de todos os hormônios dessa classe no organismo, principalmente a testosterona e a sua versão mais potente, a di-hidrotestosterona (ou DHT), que é a principal responsável pela alopecia androgenética (alguns dos outros medicamentos tradicionalmente utilizados no tratamento da calvície, como a finasterida, inibem apenas a atuação do DHT).

Quais os riscos da flutamida?

O problema do tratamento sistêmico com flutamida é exatamente o fato de ele não ser seletivo. Como dissemos no começo, os hormônios androgênicos são importantes para uma diversidade de funções. Quando diminuímos a ação desses hormônios no organismo todo (em vez de apenas na área onde eles estão causando problemas), isso pode gerar efeitos colaterais indesejados.

Algumas das possíveis reações adversas indicadas na bula da flutamida são a ocorrência de ginecomastia (crescimento anormal das mamas nos homens), redução na produção de esperma, diminuição da libido (desejo sexual), depressão, falta de energia e ansiedade.

Trecho da bula da flutamida falando sobre seus efeitos colaterais

Trecho da bula da flutamida, falando sobre as reações adversas que o medicamento pode causar. (Fonte)

Mas a maior polêmica relacionada à flutamida tem a ver com os danos que ela pode causar ao fígado. Na maioria dos casos os efeitos do medicamento nas funções hepáticas são normalizados com a diminuição da dose ou a interrupção do tratamento, mas já aconteceram problemas muito sérios.

Em 1999, as bulas da flutamida no mundo todo foram alteradas para incluir a ocorrência de casos raros de toxicidade hepática grave. Em outubro de 2004, a Anvisa emitiu um alerta sobre os riscos da flutamida após notificações de cinco casos de hepatite fulminante em mulheres jovens que utilizavam o medicamento (quatro delas faleceram).

Por causa desses riscos, os médicos que prescrevem a flutamida devem realizar um acompanhamento cuidadoso e periódico da saúde do fígado dos pacientes durante todo o tratamento. Assim, caso surja qualquer complicação, é possível tomar as medidas necessárias o mais cedo possível.

Flutamida para mulheres

O fato de os hormônios androgênicos serem mais importantes no organismo masculino do que no feminino (apesar de também serem produzidos em pequenas quantidades pelas mulheres) leva a crer que o uso da flutamida no tratamento da acne, do hirsutismo e da queda de cabelo com fundo genético e hormonal seria bem tolerado em mulheres (tese que é reforçada por alguns estudos).

O problema é que esses hormônios são fundamentais caso aconteça uma gravidez, o que é principalmente preocupante se o feto for do sexo masculino, pois a flutamida poderia prejudicar a sua formação. Além disso, é possível que o medicamento passe para o leite materno durante a fase de amamentação.

Mulher grávida

A flutamida não deve ser tomada por mulheres grávidas ou que estejam amamentando, pois pode apresentar riscos à criança.

A bula do medicamento diz que não foram feitos estudos em mulheres grávidas ou lactantes, e só recomenda o uso da flutamida em homens. O tratamento em mulheres também é considerado off label e só costuma ser realizado quando não há mais possibilidade de engravidar (como após a menopausa) ou em pacientes que façam um rígido controle anticoncepcional.

Flutamida tópica

Para evitar os efeitos da flutamida no fígado e em outras partes do organismo, o ideal seria aplicá-la apenas na área onde se deseja que ela atue (no caso da queda de cabelo, isso seria no nível dos folículos capilares, unidades onde os fios são produzidos).

O desafio da indústria farmacêutica é produzir uma formulação que permita aplicar a flutamida de forma tópica (na superfície do couro cabeludo, por via de cremes, loções, shampoos ou outros produtos) e garanta a sua absorção no nível dos folículos, sem que ela entre na corrente sanguínea em níveis significativos para gerar efeitos no restante do corpo.

Um estudo realizado em tecido humano transplantado em ratos já demonstrou que a flutamida e a finasterida em gel são capazes de estimular a recuperação dos folículos capilares. Porém, ainda não existe uma fórmula que tenha sido devidamente testada e considerada eficaz e segura em humanos (garantindo que a absorção do medicamento pelo restante do organismo seja baixa), aprovada pelos órgãos reguladores, produzida em escala comercial e vendida nas farmácias.

Conclusão

A flutamida é uma substância antiandrogênica poderosa, de efeito comprovado e que pode ser valiosa no tratamento de problemas causados pelo excesso de hormônios masculinos, incluindo a alopecia androgenética, principalmente a partir do momento em que for possível utilizá-la de maneira localizada, diretamente nos folículos capilares e sem grande absorção sistêmica.

Isso é importante porque apesar de muitas pessoas que fazem tratamento com flutamida não manifestarem efeitos colaterais, os riscos são extremamente sérios e preocupantes (e é claro que qualquer esforço para combater a calvície jamais deve vir antes do cuidado com a nossa saúde).

O ponto mais importante e que já deve ter ficado mais do que claro a essa altura (mas nunca é demais lembrar) é que a flutamida jamais deve ser tomada por conta própria. Nada de usar “porque a vizinha indicou”, “porque o meu primo usou e o cabelo dele parou de cair”, nem “porque eu li na internet” – a única pessoa responsável por receitar e acompanhar esse tipo de tratamento é um médico.

Enquanto a fórmula ideal da flutamida tópica não chega às nossas farmácias, o ideal é avaliar todas as demais opções de tratamento disponíveis para a calvície genética – incluindo opções como a finasterida, o minoxidil e o cetoconazol – e montar o seu esquema de combate à queda de cabelo de maneira consciente e segura.

Facebooktwitterpinterest
AVISO: As informações e opiniões publicadas pelo Chega de Queda! não possuem autoridade profissional e não devem ser interpretadas como aconselhamento médico. Nunca utilize qualquer medicação por conta própria. Consulte sempre o seu médico.
Comentários
  1. Priscila
    • Chega de Queda!
  2. Elizabeth
    • Chega de Queda!
    • Tânia Pereira Nunes
    • Luciana
  3. Emanuelle
    • Chega de Queda!
  4. Eliana
    • Chega de Queda!
  5. Daniela
    • Chega de Queda!
  6. Apuclo
  7. Kely
    • Chega de Queda!
  8. Maura
  9. Marina Rodrigues ALves
    • Chega de Queda!
  10. Sandra
  11. Karina

Deixe seu comentário!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

onze + 14 =