Flutamida serve para queda de cabelo?
Flutamida é um tema polêmico quando o assunto é tratamento para queda de cabelo. Estamos falando de um medicamento para casos avançados de câncer de próstata, mas que costumava ser receitado por alguns médicos em alguns casos de alopecia androgenética.
Os efeitos da flutamida são bastante poderosos, porém os riscos de efeitos colaterais severos (e a ocorrência de algumas mortes relacionadas ao remédio!) fizeram com que ela fosse abandonada por grande parte dos dermatologistas.
Mas será que devemos descartar completamente os benefícios deste potente medicamento?
Reunimos as informações disponíveis sobre a flutamida, incluindo o histórico do remédio, a bula e os estudos realizados com a substância até hoje, e vamos contar tudo para você.
O que é flutamida?
Flutamida é uma substância descoberta nos anos 70 e aprovada em 1989 pela FDA (Food and Drug Administration, agência que regula a comercialização de medicamentos nos Estados Unidos) para o tratamento do câncer de próstata. No Brasil, o medicamento obteve o registro no Ministério da Saúde em 1991.
O único uso autorizado para a flutamida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão brasileiro com função semelhante à da FDA) é em casos de câncer de próstata. Porém, alguns dos resultados secundários do remédio, como a redução da acne, do hirsutismo (excesso de pêlos no corpo da mulher) e da queda de cabelo nos quadros de alopecia androgenética levaram muitos médicos a receitá-la também nesses casos (situação conhecida como off label, ou seja, “fora da bula” – veja aqui a postura da Anvisa em relação a essa prática).
Como a flutamida funciona?
Os hormônios androgênicos (como a testosterona) exercem várias funções no organismo humano, como a formação das características sexuais masculinas no feto, as mudanças pelas quais os meninos passam durante a puberdade, a regulação do funcionamento da próstata, do ganho de massa muscular, entre várias outras.
Para realizar essas mudanças, os hormônios precisam se conectar aos receptores androgênicos das células. Quando essa conexão acontece, a célula passa a fazer o que o hormônio determina.
A flutamida faz parte da classe de medicamentos bloqueadores do receptor androgênico: ela se conecta a esses receptores no lugar dos hormônios, impedindo que eles realizem as suas funções nas células.
Nos casos de câncer de próstata, esses hormônios podem estimular o crescimento dos tumores. O tratamento com flutamida bloqueia esse efeito, ajudando a controlar o avanço da doença.
Por que a flutamida funciona para queda de cabelo?
Quando o tratamento com flutamida é realizado de forma sistêmica (como no caso dos comprimidos, que agem dentro do corpo), a sua ação não é restrita à próstata: ela afeta várias células em outras partes do corpo também.
Por causa disso, outros problemas que também sejam causados ou agravados pela ação dos hormônios androgênicos, como a acne e o hirsutismo, também podem se beneficiar da ação do remédio.
Por atuar diretamente nos receptores androgênicos das células, a flutamida tem o poder de reduzir os efeitos de todos os hormônios dessa classe no organismo, principalmente a testosterona e a sua versão mais potente, a di-hidrotestosterona (ou DHT), que é a principal responsável pela alopecia androgenética (alguns dos outros medicamentos tradicionalmente utilizados no tratamento da calvície, como a finasterida, inibem apenas a atuação do DHT).
Quais os riscos da flutamida?
O problema do tratamento sistêmico com flutamida é exatamente o fato de ele não ser seletivo. Como dissemos no começo, os hormônios androgênicos são importantes para uma diversidade de funções. Quando diminuímos a ação desses hormônios no organismo todo (em vez de apenas na área onde eles estão causando problemas), isso pode gerar efeitos colaterais indesejados.
Algumas das possíveis reações adversas indicadas na bula da flutamida são a ocorrência de ginecomastia (crescimento anormal das mamas nos homens), redução na produção de esperma, diminuição da libido (desejo sexual), depressão, falta de energia e ansiedade.
Mas a maior polêmica relacionada à flutamida tem a ver com os danos que ela pode causar ao fígado. Na maioria dos casos os efeitos do medicamento nas funções hepáticas são normalizados com a diminuição da dose ou a interrupção do tratamento, mas já aconteceram problemas muito sérios.
Em 1999, as bulas da flutamida no mundo todo foram alteradas para incluir a ocorrência de casos raros de toxicidade hepática grave. Em outubro de 2004, a Anvisa emitiu um alerta sobre os riscos da flutamida após notificações de cinco casos de hepatite fulminante em mulheres jovens que utilizavam o medicamento (quatro delas faleceram).
Por causa desses riscos, os médicos que prescrevem a flutamida devem realizar um acompanhamento cuidadoso e periódico da saúde do fígado dos pacientes durante todo o tratamento. Assim, caso surja qualquer complicação, é possível tomar as medidas necessárias o mais cedo possível.
Flutamida para mulheres
O fato de os hormônios androgênicos serem mais importantes no organismo masculino do que no feminino (apesar de também serem produzidos em pequenas quantidades pelas mulheres) leva a crer que o uso da flutamida no tratamento da acne, do hirsutismo e da queda de cabelo com fundo genético e hormonal seria bem tolerado em mulheres (tese que é reforçada por alguns estudos).
O problema é que esses hormônios são fundamentais caso aconteça uma gravidez, o que é principalmente preocupante se o feto for do sexo masculino, pois a flutamida poderia prejudicar a sua formação. Além disso, é possível que o medicamento passe para o leite materno durante a fase de amamentação.
A bula do medicamento diz que não foram feitos estudos em mulheres grávidas ou lactantes, e só recomenda o uso da flutamida em homens. O tratamento em mulheres também é considerado off label e só costuma ser realizado quando não há mais possibilidade de engravidar (como após a menopausa) ou em pacientes que façam um rígido controle anticoncepcional.
Flutamida tópica
Para evitar os efeitos da flutamida no fígado e em outras partes do organismo, o ideal seria aplicá-la apenas na área onde se deseja que ela atue (no caso da queda de cabelo, isso seria no nível dos folículos capilares, unidades onde os fios são produzidos).
O desafio da indústria farmacêutica é produzir uma formulação que permita aplicar a flutamida de forma tópica (na superfície do couro cabeludo, por via de cremes, loções, shampoos ou outros produtos) e garanta a sua absorção no nível dos folículos, sem que ela entre na corrente sanguínea em níveis significativos para gerar efeitos no restante do corpo.
Um estudo realizado em tecido humano transplantado em ratos já demonstrou que a flutamida e a finasterida em gel são capazes de estimular a recuperação dos folículos capilares. Porém, ainda não existe uma fórmula que tenha sido devidamente testada e considerada eficaz e segura em humanos (garantindo que a absorção do medicamento pelo restante do organismo seja baixa), aprovada pelos órgãos reguladores, produzida em escala comercial e vendida nas farmácias.
Conclusão
A flutamida é uma substância antiandrogênica poderosa, de efeito comprovado e que pode ser valiosa no tratamento de problemas causados pelo excesso de hormônios masculinos, incluindo a alopecia androgenética, principalmente a partir do momento em que for possível utilizá-la de maneira localizada, diretamente nos folículos capilares e sem grande absorção sistêmica.
Isso é importante porque apesar de muitas pessoas que fazem tratamento com flutamida não manifestarem efeitos colaterais, os riscos são extremamente sérios e preocupantes (e é claro que qualquer esforço para combater a calvície jamais deve vir antes do cuidado com a nossa saúde).
O ponto mais importante e que já deve ter ficado mais do que claro a essa altura (mas nunca é demais lembrar) é que a flutamida jamais deve ser tomada por conta própria. Nada de usar “porque a vizinha indicou”, “porque o meu primo usou e o cabelo dele parou de cair”, nem “porque eu li na internet” – a única pessoa responsável por receitar e acompanhar esse tipo de tratamento é um médico.
Enquanto a fórmula ideal da flutamida tópica não chega às nossas farmácias, o ideal é avaliar todas as demais opções de tratamento disponíveis para a calvície genética – incluindo opções como a finasterida, o minoxidil e o cetoconazol – e montar o seu esquema de combate à queda de cabelo de maneira consciente e segura.
Olá! A minha dermato mandou manipular minoxidil 5%, progesterona 2% e flutamida 2% em solução hidroalcoólica qsp. porque tenho calvície hereditária, diagnosticada por biópsia. Tomo há 6 meses Viviscal, que possui um componente marinho, o Complexo de proteína marinha (Aminomar C) 600 mg, entre outros: niacina, biotina, ferro, extrato de cavalinha e semente de milheto, zinco. O que vc acha? Obrigada!
Priscila, a gente não tem condição de opinar sobre tratamentos individuais, mas não deixe de contar pra gente sobre os seus resultados, ok? Já falamos sobre o minoxidil neste post aqui, e estamos preparando posts também sobre progesterona e o Viviscal (sempre avisamos lá no Facebook e no Twitter quando tem conteúdo novo por aqui).
Tenho alopecia andogenética e o tricologista me passou flutamida. Estou com muito receio de tomar, principalmente porque não vi nenhum depoimento de alguém que tenha tomado e tenha obtido resultado. Tenho 28 anos e desejo ter um filho em breve, acha que devo arriscar?
Elizabeth, se você pretende engravidar nos próximos meses, o ideal é conversar a respeito com o médico que te prescreveu o medicamento e também com o seu ginecologista (eles devem orientar a suspensão do uso da flutamida e dizer quanto tempo depois disso é seguro que você fique grávida).
Boa tarde! Vc pode me informar o nome do médico que te receitou a flutamida? Já fiz tratamento com ele, foi o único que resolveu o meu problema. Grata!
Tomei em 2 ocasiões. Só na 2 funcionou com suplemento forte de ferro. Parece que usa a ferritina como carreador, entao precisa aumentá-la. Funciona muuuito, mas o risco de hepatite fulminante me fez parar.
Olá! Eu tenho alopécia androgenética e tomo espirolactona 100 mg diariamente, e também faço uso do minoxidil.
Estou percebendo uma boa melhora no meu cabelo, porém li a reportagem sobre a flutamida e me surgiram dúvidas quanto à espironolactona… há alguma relação entre flutamida e espironolactona? A espironolactona pode ser prejudicial quanto a flutamida? Obrigada.
Emanuelle, a espironolactona atua de maneira parecida com a flutamida (como antagonista dos receptores androgênicos). Falamos um pouco sobre ela neste post aqui, mas estamos preparando um post específico a respeito também (sempre avisamos no Facebook e no Twitter quando chega conteúdo novo aqui no site).
Minha médica receitou flutamida 4% + espironolactona 2,5% para aplicar no buço, tenho muitos pelos nesse local. Será que é prejudicial também?
Eliana, se a sua médica receitou e está acompanhando, não deve haver problema algum.
Tomei flutamida durante muitos anos, uns 4, sempre com acompanhamento médico. Resolvi parar de tomar por conta própria, pois desejo engravidar e também não quero ficar a vida toda tomando e comprando remédios. Parei de tomar faz 3 meses e percebi que minha queda aumentou muiiiito. Gostaria de saber se é normal e como pode ser o tratamento nessa fase, pois não quero voltar a tomar. Também não gostaria de passar minoxidil, pois já li que quando paramos de usar o cabelo cai muito mais.
Daniela, medicamentos como a flutamida apenas controlam o quadro de alopecia enquanto estão sendo utilizados, mas não eliminam a causa do problema, então é comum que a queda retorne com a interrupção do tratamento sim. O ideal é conversar com o seu médico pra avaliar quais outras opções podem ser utilizadas, ok?
Mais uma vez, obrigado pela boa vontade e disposição de vcs em pesquisarem artigos com informações sobre medicamentos p/ tratamento para queda capilar, nos serve e muito de orientação.
Nós é que agradecemos pelo seu comentário, Apuclo 🙂
Ola! Tenho alopecia androgenética e já fiz uso da finasterida e da flutamida. Para o meu caso a finasterida fez um bom resultado, mas só por uns 6 meses, depois a queda do cabelo voltou até mais acentuada. Hoje faço uso da flutamida, tomo 100 mg por dia e até agora com ótimos resultados, estou adorando. Faço exames a cada 6 meses, mas estou com medo de continuar tomando, pois já faz 2 anos de uso. Obrigada
Kely, qualquer dúvida ou receio relacionado ao seu tratamento específico deve ser esclarecido diretamente com o seu médico, ok?
Tomei e usei tópico e também todos os medicamentos citados nos comentários, androcur, flutamida, espironolactona, aldactone… e o que consegui ao tempo aproximado de 8 anos de tratamento foi 7 dias na UTI de um hospital. Mas não se assustem, isso ocorreu provavelmente porque fiz um tratamento à base de sulfa e daraprin, acho que isso também contribuiu para o quadro de infecção generalizada do fígado, rim, pulmões… enfim, estou aqui bem viva, mas não usaria mais esses remédios porque quem tem alopecia idiopática (genética) só reduz a queda enquanto trata, depois o quadro continua o mesmo.
Bom dia, minha médica me receitou este remédio ontem, devido ao excesso de espinhas. Ela pediu para que minha ginecologista mudasse meu anticoncepcional, porém a mesma não quis mudar. Lendo esta reportagem fiquei um pouco assustada, se mando fazer este remédio ou não. Apesar que confio na minha dermatologista, passo com ela há mais de 1 ano. Mas ainda estou insegura.
Marina, qualquer insegurança ou dúvida que você tenha sobre o seu tratamento específico deve ser esclarecida diretamente com as médicas que te atendem, ok?
Eu fiz uso de aldactone alguns anos atrás, não senti nada e meu cabelo ficou bem cheio e cresceu muito. Depois parei e com o tempo ele foi caindo novamente. O médico disse que eu tinha que tomar a vida toda. Não lembro se tive alguns sintomas, mas creio que não. Estava aqui à procura do remédio e lendo as mensagens recordei que é este nome mesmo. Vou conversar com o dermatologista para voltar a tomar.
Pessoal, boa tarde. Tomei flutamida durante um período de cinco anos, antes de ocorrerem os relatos de óbitos pela Anvisa, associados a esta medicação. Logo após a proibição, minha dermatologista parou de receitar, pois os médicos que ainda receitam, não tenho certeza, mas caso descobertos, podem ter problemas até mesmo com o registro no Conselho de Medicina. Não tenho certeza disso, porém na dúvida nenhum dermatologista pelo qual passei (foram uns 6), após o episódio, prescreveu a medicação para mim, alegando estarem proibidos. Senti muito no início, pois os resultados da flutamida são espetaculares, não somente para evitar a queda capilar e a acne, mas de um modo geral me sentia mais bonita, com os cabelos mais vistosos e brilhantes (aquele sebo da pele e dos cabelos desapareceram). Sou prova viva de que a flutamida traz tudo isso, porém coloquei na balança o custo benefício, de poder perder a vida ou ter a pele oleosa e passei a tomar outra medicação, menos agressiva. Nem de longe traz os resultados da flutamida, mas evita um pouco a queda capilar e o excesso de oleosidade. Quem sabe um dia a indústria farmacêutica não desenvolve uma medicação com os mesmos resultados, mas com efeitos colaterais menos perigosos.